Matéria: Rafael Cyrne/Portal no ataque

Oito vitórias e um empate em nove jogos, 92% de aproveitamento. Quem vê os números expressivos do Manauara na Série D não imagina que, há pouco mais de dois meses, o clube ameaçava fechar as portas. O time amazonense é dono da melhor campanha de todas as divisões do Campeonato Brasileiro.

E não para por aí: a equipe comandada pelo técnico Marcelo Vilar tem o melhor ataque geral do Brasileiro – marcou 28 gols em nove jogos, média superior a três por partida. Na defesa, o Manauara também se destaca: sofreu apenas cinco gols em nove partidas – quarta melhor marca da Série D, empatado com Treze, Crac e Itabuna. Líder do Grupo A1 da Quarta Divisão Nacional, o time amazonense é um dos quatro ainda invictos no Brasileiro, ao lado de Botafogo-PB (Série C), Treze e Itabaiana (Série D). Na última partida, nesse domingo (16/6), pela nona rodada da primeira fase da competição, a equipe nortista goleou o Humaitá, do Acre, por 5 a 0.

Há cerca de dois meses e meio, o Manauara ameaçou encerrar as atividades caso não conquistasse o acesso para a Série C neste ano. O motivo para fechar as portas, no entanto, não seria falta de estrutura ou de condições para pagar jogadores, caso da maioria dos clubes que deixam de existir no Brasil, e sim político. O presidente do time era acusado de manipular resultado de partida do Campeonato Amazonense.

Presidente do clube, que foi fundado em novembro de 2020, Marcus Paulo Rodrigues de Souza redigiu comunicado publicado nas redes sociais do Manauara no dia 3 de abril. No texto, ele se defende de acusações de envolvimento em manipulação de resutado em partida do Campeonato Amazonense, diz que é perseguido pelo Tribunal de Justiça Desportiva do Amazonas (TJD-AM) e ameaça não disputar competições estaduais e nacionais em 2025 (mesmo já classificado para a Série D do ano que vem) caso a equipe não conquiste o acesso para a Série C do Brasileiro neste ano.

Marcus Souza foi acusado de manipular resultado da partida entre Parintins e Rio Negro, pela quarta rodada do segundo turno do Amazonense, disputada no Estádio Francisco Garcia (Chicão), em Rio Preto da Eva, no dia 19 de março. Quarto árbitro da partida, Walter Francisco Nascimento relatou que o presidente do Manauara entrou no vestiário dos árbitros antes do apito inicial, mesmo sem autorização e sem ter ligação direta com o jogo, para desejar bom trabalho à equipe de arbitragem. Ademais, Allefe, lateral-direito do Parintins, acusou Marcus de ter entrado no vestiário do Rio Negro antes da partida, que terminou com placar elástico a favor do Parintins: 7 a 0.

Os jogadores do Rio Negro abandonaram o campo aos 25 minutos do segundo tempo, forçando que o apito final fosse antecipado.

Allefe relatou, em story no Instagram, que os atletas do time rival tiveram atitudes “suspeitas” durante a partida:

“o time vem a campo com cinco jogadores no banco. Faz uma substituição no primeior tempo, as outras quatro assim que começa o segundo tempo. Depois disso, começa o anti-jogo treinador do treinador pedindo para jogador cair. Jogador que tinha acabado de entrar na partida atende o pedido e ainda sai de ambulância para fazer raio-x”. Apesar do placar elástico, o time de Allefe foi prejudicado pelo abandono. Entenda o motivo.

Com a vitória por 7 a 0 sobre o Rio Negro, o Parintins chegou chegou aos 18 pontos na tabela geral do Amazonense e assumiu a liderança provisória. O líder da classificação geral (que soma as pontuações do primeiro e do segundo turno do campeonato) garante vaga na Série D 2025. Foi o último jogo do Parintins na fase de classificação geral. O time ainda poderia ser ultrapassado justamente pelo Manauara, que ainda tinha dois jogos a disputar: contra o Rio Negro e contra o São Raimundo Dias depois, o time enfrentou o Rio Negro e goleou por 8 a 0. Assim, chegou a 14 gols de saldo na tabela geral – justamente um a mais do que o Parintins, que tinha 13.

Essa diferença no saldo foi crucial, no final das contas. Depoois de golear o Rio Negro, o Manauara venceu o São Raimundo e finalizou a fase de classificação geral com os mesmos 18 pontos de Parintins e Manaus – mas ficou em primeiro graças ao saldo de gol melhor que o dos adversários, e garantiu vaga na Série D de 2025.

Após o suspeito abandono dos jogadores do Rio Negro no segundo tempo da partida contra o Parintins, quando o placar marcava 7 a 0, o Procurador Geral do TJD-AM, Ruy Mendonça, disse que via indícios de que a partida foi manipulada:

“Há indícios fortíssimos de ocorrência de manipulação visando a alteração indevida do resultado e do curso da disputa de jogo, removendo da partida por completo a sua imprevisibilidade. A Procuradoria pedirá ao Tribunal a instauração de inquérito com vistas a apurar a existência de infração disciplinar e determinar a sua autoria. Os culpados serão punidos”.

Dias depois do jogo, o presidente do TJD-AM, Hugo Ribeiro, determinou suspensão preventiva de Marcus Souza, presidente do Manauara, pelo prazo de 15 dias úteis ou até o julgamento da denúncia de manipulação do resultado da partida entre Parintins e Rio Negro.

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